sábado, 9 de agosto de 2008

Espada samurai

Durante sete séculos os shoguns e samurais tiveram seu apogeu de lutas. Quando a expansão européia na Ásia se completou, por volta do século XIX, os samurais desapareceram, porém os ensinamentos de sua arte guerreira permanecem até hoje, principalmente a mística criada em torno de suas espadas.
Para os ocidentais é difícil entender por que os samurais tinham tanto respeito para com suas espadas. Mais do que simples armas, essas espadas eram consideradas como parte do corpo, cada qual com sua simbologia e aplicação próprias. Não raro, um samurai de estirpe pagava uma pequena fortuna pela espada de um mestre armeiro. Tanto a confecção quanto o uso dessas lâminas eram rigidamente guiados por profundos conceitos religiosos e éticos, o que inspirou lendas e projetou seus preços a patamares inacreditáveis, dependendo da época de fabricação, estado de conservação, fabricante, etc.
Obras de Arte
Por serem totalmente artesanais, as espadas dos samurais não possuíam limites nas suas características básicas. Quanto mais afamado o samurai e mais artístico o artesão espadeiro, maior valor monetário estaria envolvido na confeccção da espada e, assim, nasceram verdadeiras obras de arte.
As espadas cerimoniais (kens), normalmente gravadas com motivos religiosos, são, na concepção da palavra, sinais de uma arte pacienciosa e há muito esquecida, resquícios de uma época onde o respeito aos princípios era algo de extremo valor.
Pelo uso dos materiais, pela ciência de sua aplicação e lógica de seu emprego, as diversas partes que compõem uma espada samurai podem ser consideradas pequenas obras de arte, mesmo em suas mais simples formas, tudo a partir do fato de hoje representarem antiguidades de uma cultura pouco conhecida dos ocidentais.

Bainha (saya)Habitualmente feita de duas partes de madeira, leve, coladas, com a curvatura da lâmina, posteriormente laqueadas com ou sem motivos diversos, sendo o mais comum o bonji, caractere de escrita que definia o respeito a uma divindade, situação ou local. Outros materiais podiam ser usados, tais como marfim ou osso e latão. Normalmente a bainha era presa à indumentária do samurai através de um cordão de trama pequena chamado sageo. Por ou não ter o compartimento para guarda da kosuka (faca pequena que segundo as lendas antigas era usada para arremessar), ou do kogai (pino de cabelo, usualmente com uma marca de família).
Guarda (tsuba)Podia ser confeccionada de ferro fundido, ferro batido, cobre ou latão, ou metais combinados entre si e com ouro e/ou prata. Essa é, normalmente, a parte mais decorativa da espada, podendo ter desenhos geométricos ou outros que refletissem o modo de vida, ou ainda aqueles para as ocasiões especiais ou de simples gosto pessoal do possuidor. Sua espessura pode variar de 4 a 8 milímetros.
Empunhadura (tsuka)Feita de madeira leve, recoberta primeiramente com pele de arraia especialmente tratada e posteriormente com um cordame de seda (tsuka-ito), trançado de modo a formar entre os nós um desenho de forma losangular. Entre as duas coberturas, de ambos os lados encontra-se o menuki, uma ornamentação, de motivo diverso, geralmente em metal. As extremidades do conjunto de empunhadura são recobertas de metal, que serve, na parte superior, para fixar o nó de início do tsuka-ito. A empunhadura possui furo(s) passante(s), coincidente(s) com aquele(s) da parte final da lâmina, através do qual é inserido o pino de travamento (mekugi), usualmente de bambu.
Colarinho da lâmina (habaki)Parte de travamento e cobertura da lâmina, colocada antes da guarda, podendo ter alguma decoração, em raros casos. Pode ser encontrada em cobre ou latão.

Os Tipos
As lâminas japonesas utilizadas pelos samurais são encontradas em 4 tipos básicos:
TantôUsualmente uma faca, sempre com 30 cm de comprimento, usada para trabalhos gerais, podendo até ser utilizada para a prática do harakiri (lenta e dolorosa forma de suicídio, onde o samurai cortava o ventre no sentido horizontal, da esquerda para a direita, quando sua honra estava irremediavelmente comprometida).
WakizachiUma pequena espada, geralmente com medida não inferior a 45 cm de comprimento. Na tradição religiosa e guerreira do samurai, esta lâmina era utilizada para a correção dos seus próprios defeitos, podendo ser também utilizada para o harakiri e somente sendo usada para a defesa de sua vida em último caso.
KatanáÉ a verdadeira espada de combate, nunca com medida inferior a 60 cm de comprimento e entendida como aquela própria para a correção dos defeitos da comunidade onde vivia o samurai.
TachiÉ a mais longa, normalmente usada quando ele estaria próximo, ou se dirigia a, seu shogun. Usualmente sua lâmina deve ter um mínimo de 8 cm a mais do a katana, sendo a bainha caracterizada por ter dois anéis metálicos de sustentação, o que também possibilitava que fosse carregada nas costas.


O Preço das Originais

Os grandes leiloeiros internacionais tais como Wallis & Wallis e Christie's, ambos de Londres, localizaram os preços das espadas samurais originais em períodos distintos, fator este que é fundamental para a determinação de seus valores, acoplados a características particulares de cada lâmina, seu estado, assinatura, grau de arte e materiais empregados.
Asssim, torna-se difícil citar em média, uma vez que os fatores são vários. Cada caso de obtenção de preço deve depender da análise de um especialista.
No catálogo da série Antiques and Their Values, relativo exclusivamente à militaria, publicado por Lyle Publications, tendo por base os leilões ocorridos na Wallis & Wallis em 1982, temos katanás que foram vendidas de US$ 434,00 até US$ 7.440,00; tachis de US$ 990 a US$ 2.912,00 e wakizachis de US$ 855,00 a US$ 2.912,00.
As guardas (tsubas) mesmo desassociadas do resto da espada, também têm o seu valor como militaria, uma vez que muitas pessoas colecionam apenas essa parte, tendo preços que variam de US$ 55,00 a US$ 11.000,00.
Algumas lojas do bairro paulistano da Liberdade estão vendendo boas réplicas de tantôs, fabricadas no Japão, por cerca de US$ 200,00 e réplicas de katanás, alguns apenas de qualidade razoável, por preços que vão de US$ 130,00 a US$ 600,00.


Segredo Milenar

Inexplorado durante séculos, o oriente guardava inúmeros segredos. Um dos mais bem guardados segredos do Japão era a têmpera das lâminas das espadas samurais. Essas lâminas, embora extremamente afiadas, possuíam notável flexibilidade. A exclusiva forma de sua confecção e o segredo de sua têmpera provaram ser essas lâminas superiores as de Toledo e Damasco. Do ponto de vista técnico, quanto maior for a dureza de um aço, mais corte ele terá. Porém, quanto menos duro for o aço, mais flexibilidade terá uma lâmina feita com ele. A katana combina esses dois fatores de forma magistral.
A partir de dois blocos retangulares de aço, um com grande e outro com média dureza, era iniciado o trabalho de forjar-se uma lâmina. O processo usado era o caldeamento (o metal era aquecido até determinado ponto e depois martelado). Esticados em seu comprimento, o bloco de dureza menor era levado ao dobro do tamanho do bloco de maior dureza, transformando-se numa longa chapa.
Após essa operação, o bloco de maior dureza (então também já esticado) era colocado sobre a chapa de menor dureza, ambos alinhados por uma extremidade. Em seguida, a chapa de menor dureza era dobrada, revestindo a mais dura. Esse conjunto era novamente aquecido e martelado, fazendo com que os dois tipos de aço quase se fundissem e tivessem consequentemente, suas moléculas mais agregadas.
Assim, ao dar-se forma final à parte mais fina (e que posteriormente receberia o fio do corte) era praticamente constituída quase que de metal mais duro. Através do polimento com pedras, essa parte mais fina deixava aparecer o metal mais duro somente na parte do corte. Polida de forma totalmente artesanal, estava a lâmina pronta para receber a sua têmpera, o que também era feito de forma especial.
Após cobrir toda a lâmina com argila, areia ou pó de carvão misturados a um tipo de cola, esse material era cuidadosamente retirado (usualmente com uma haste de bambu ou estilete) da parte que seria cortante ou fio.
Uma vez seca a camada de material que recobria a lâmina, era ela levada a aquecer em fogo brando de carvão de pinho até tornar-se própria para a têmpera, sendo então mergulhada num tanque de água aquecido. Estava assim pronta uma soberba lâmina samurai, que podia ser extremamente afiada, uma vez que o aço de seu fio possuía extrema dureza e boa flexibilidade, o que permitia que recebesse violentíssimos golpes sem quebrar.
O padrão de desenho da linha de corte usado pelos diversos espadeiros para determinar o fio da espada é hoje valioso elemento na identificação correta de uma lâmina original.

Katanás da 2ª Guerra Mundial

Enquanto uma katana originária do Japão feudal dependendo de sua lâmina e acabamento pode ter um valor extremamente alto, uma espada de oficial japonês da 2ª Guerra Mundial possui baixo ou médio valor e está entre aquelas mais fáceis de serem encontradas.
Isto se deve ao fato de tais espadas terem sido produzidas em série, em diversos arsenais, mais para reavivar uma simbologia guerreira do que para constituir-se numa verdadeira arma de combate. Normalmente empregando materiais baratos, tais lâminas têm seus preços entre cem e trezendo dólares, com raríssimas exceções.
A katana dos oficiais do exército japonês tinha a bainha pintada de marrom claro, levemente esverdeada, havendo tipos onde a mesma era revestida de couro, geralmente da mesma cor. Sua empunhadura pode, dependendo do ano ou arsenal de fabricação, ser de alumínio, imitando pele de arraia.
Os oficiais da marinha imperial japonesa usaram um tipo de katana similar ao tachi samurai (com dois pontos de fixação na bainha e argola ao final da empunhadura), normalmente com os mesmos tipos e cor daqueles usados pelo exército.
Mas haviam oficiais de nobre origem samurai que possuíam lâminas antigas e autênticas, usadas por seus antepassados e guardadas como verdadeiros tesouros de família, os quais não hesitaram em adaptá-las à empunhaduras e bainhas oriundas dos arsenais japoneses ou mesmo utilizá-las em sua forma original.
Assim, para avaliar-se o verdadeiro valor de uma espada japonesa, mesmo aquelas usadas na 2ª Guerra Mundial, torna-se necessário conhecer as peculiaridades da parte oculta da lâmina, aquela que permanece dentro da empunhadura (marcas de fabricação e assinaturas).

Um comentário:

Unknown disse...

Oi vc saberia avaliar uma espada japonesa?